Comunidade LGBT no Futebol

Como é para pessoas do futebol que se assumem.
Por Adriely Rossetti, 13/11/2022

De uns tempos pra cá alguns jogadores do futebol têm assumido publicamente sua sexualidade, influenciados pelo início do ganho de representatividade na mídia.

Atacante do Blackpool (ING), Jake Daniels

Atacante do Blackpool (ING), Jake Daniels, de 17 anos, tornou-se o primeiro jogador no futebol britânico desde Justin Fashanu, em 1990, a dizer ao público que é gay. "Se outras pessoas olharem para mim e sentirem que também podem seguir esse caminho, seria algo brilhante".

Marta Silva, a maior artilheira Brasileira

Marta Silva, a maior artilheira com a camisa do Brasil em Copas do Mundo nunca deu uma entrevista afirmando sua sexualidade, mas faz questão de destacar seus relacionamentos com mulheres. No ano passado, anunciou o noivado com a companheira do Orlando Pride, Toni Deion Pressley.

Cristiane Rozeira

Cristiane Rozeira tem 36 anos, é lésbica, casada com a advogada Ana Paula Garcia e, por fim, é mãe do Bento, que acabou de completar um ano. Fala em uma entrevista para a CNN [https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/cris-rozeira-maior-artilheira-da-historia-em-olimpiadas-lesbica-mae-do-bento/] sua preocupação em se assumir: "A preocupação era como eu seria vista, como seria com marcas e empresas futuras que eu quisesse ter esperança de fechar um contrato. Eu vivia naquele famoso armário. Eu contava para os meus amigos, para as pessoas mais próximas".

Em relação às atletas mulheres que se afirmam como integrantes da comunidade LGBQTIAP+, o número de homens que fazem o mesmo é bem menor. Atualmente, os únicos jogadores de futebol em atividade que declararam ser gays são o jovem inglês Jake Daniels, de 17 anos, que atua no Blackpool; e o australiano Josh Cavallo, meia do Adelaide United.

É comum não vermos muitas pessoas LGBTs no futebol hoje, mas não porque não gostem do esporte, mas porque há muito desrespeito no futebol e acabam sentindo que não é um lugar a que eles pertencem, e, por conta disso, acaba que nem são incentivados a treinar no esporte desde jovens. A realidade é que quando algum atleta do esporte que seja LGBT se assume, o público não recebe bem isso, virando alvo de preconceito, desrespeito, e até de piadas, e podendo até perder contratos por causa disso.

Os atletas de futebol ainda não têm uma liberdade para se posicionar ao público sobre sua orientação sexual, e muitos acabam escondendo quem são durante suas carreiras para se proteger.

A pesquisa Out On the Fields, sobre homofobia no esporte, descobriu que apenas 1% dos respondentes entendiam que gays, lésbicas e bissexuais eram plenamente aceitos no esporte e 78% disseram que não seria seguro para fãs dessas sexualidades frequentarem eventos esportivos. Dos participantes que eram atletas, 49% dos homens gays, 80% dos homens bissexuais, 39% das lésbicas e 61% das mulheres bissexuais disseram ainda não terem revelado sua sexualidade abertamente. Dos que disseram ter se assumido, a maioria deles entende que o que mais lhes ajudou foi estar em clube, time ou ambiente que já possuísse uma cultura de aceitação, revelando a importância de políticas que preguem pela inclusão e pela diversidade.

Além disso, 84% reportaram ouvir piadas de cunho homofóbico frequentemente – resultado que não é surpresa para qualquer um que acompanhe esporte. Existem “piadinhas” homofóbicas praticamente institucionalizadas entre fãs, por exemplo, no Brasil, o uso de expressões como “viado” e “bixa” não são incomuns, especialmente no futebol.

O futebol é um esporte ainda machista, que, para times masculinos, os jogadores têm o tempo todo que mostrar sua masculinidade, ou por exemplo quando erram algo são ofendidos muitas vezes por xingamentos homofóbicos, e isso é uma cultura criada. Um exemplo disso é uma criança que vê isso durante o seu crescimento e esse tratamento depois se normatiza com outros colegas. Isso faz com que pessoas não se sintam pertencentes a esses espaços, justamente por desde cedo já conhecerem que é motivo de piada e desrespeito.

Anuário do Observatório da LGBTfobia no Futebol do Coletivo de Torcidas Canarinhas contabilizou 62 casos de LGBTfobia ligados, de alguma forma, ao futebol brasileiro. Foram 20 em 2020, o ano em que o esporte foi mais afetado pela pandemia de Covid, com os campeonatos paralisados por cerca de quatro meses. No ano seguinte, o número mais que dobrou e foi para 42. E aqui estão só alguns casos de homofobia registrados no futebol.

Mas, agora, o cenário em relação a este tipo de atitude é diferente. Em junho, o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia, que agora podem ser enquadradas da mesma forma que racismo, com pena prevista de um a três anos de cadeia. Após essa decisão, o STJD passou a recomendar que árbitros relatem casos de homofobia nas súmulas das partidas e parem os jogos caso isso aconteça.

A iniciativa de criar uma torcida organizada para combater a homofobia no esporte não é inédita no Brasil. No final da década de 70, dois grandes times do futebol brasileiro tentaram criar torcidas organizadas formadas por gays. Grêmio e Flamengo criaram as torcidas Coligay e Flagay, respectivamente. Mais tarde foram criadas entre outras menos conhecidas, como Maré vermelha, Galo Queer, etc.

Apesar da força de seus integrantes, a Coligay acabou sendo dissolvida em apenas dois anos, por conta dos ataques e represálias que partiam da própria torcida do Grêmio. Os ataques e retaliações incessantes fizeram com que a Fla Gay fosse descontinuada pouquíssimo tempo depois, e nenhuma das duas tentativas seguintes de "renascimento" da iniciativa foram à frente.

O time do Vasco é um exemplo que se manifestou com o dia do orgulho LGBT junto de torcidas organizadas. Foi posta uma faixa com a frase “Respeito, Igualdade e Diversidade” e nas arquibancadas, e foram espalhadas bandeiras com o arco-íris, um dos principais símbolos do movimento.

Conhecido por liderar movimentos sociais, o Vasco foi o primeiro clube a repercutir a entrevista de Richarlyson fazendo a seguinte publicação: “Respeito, Igualdade e Inclusão”. Além disso, o Cruz-Maltino anunciou que as torcidas organizadas do clube assinaram um código de conduta se comprometendo, entre outras coisas, a fomentar a luta contra a homofobia.

Na temporada passada, o time foi o primeiro brasileiro a atuar em uma partida oficial com uniforme em homenagem ao movimento LGBTQIAP+. Autor do gol da partida, o atacante Germán Cano, que hoje atua no Fluminense, protagonizou uma cena histórica ao comemorar junto a bandeira de escanteio, que estava personalizada com a bandeira oficial do grupo.

Esse tipo de manifestação no futebol é importante pois é um esporte que historicamente sofre com a homofobia, iniciativas inéditas chamam a atenção para o problema e deram esperança para a conscientização de clubes, dirigentes e torcedores.

Ultimamente vêm se formando alguns clubes e times voltados para jogadores LGBT com finalidade de criar um espaço seguro e livre de LGBTfobia, e achar um lugar que os fizesse sentir que pertencem no esporte, como Real Centro, Meninos Bons de Bola, Unicorns, T Mosqueteiros, entre outros.

Real Centro é o primeiro time LGBT do Brasil, fundado em 1989 — Foto: Marcos Guerra.
Meninos Bons de Bola (MBB), criado em 2016 por pessoas trans.
Unicorns, fundado em 2015.
T Mosqueteiros, fundado em 2019.

A conclusão do projeto Diversidade em Campo: Futebol LGBTQIAP+, realizado pelo Museu do Futebol de São Paulo, concluiu que existem hoje no Brasil mais de 80 times de futebol formados por pessoas LGBTQIAP+.

É importante serem reconhecidos pelo público, porque quando atletas LGBT estão jogando em times normais tira a ideia da visibilidade que eles procuram e livre de nenhuma LGBTfobia, e essas ligas de futebol são justamente para pessoas saberem que eles existem, e que nada os difere de outros jogadores só por causa da sua sexualidade ou gênero, porque o que importa no esporte são as habilidades dos jogadores, e nada deveria fazer que eles não fossem tratados de igual para igual.

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